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terça-feira, 4 de junho de 2019

Oi, quanto tempo!

Bom dia / tarde / noite!
Faz um bom tempo dês de a minha última postagem, 6 anos pra ser exata.
Muita coisa aconteceu nesse período. As maiores e mais marcantes foram o surto do meu irmão, a morte da minha mãe, fui encontrada por um amor que eu não achei que viveria (Te amo Léo), engravidei e virei mãe do ser mais lindo do mundo. (citei a ordem de acontecimento).

De fato tive que parar com a faculdade de cinema (ou pós). Mas quero voltar! (risos)

Talvez há dois anos atrás foi a última vez que tive vontade de escrever, comecei a escrever o relato do parto da minha filha, comecei e parei.
Nos últimos dias tem me dado muita vontade de compartilhar sobre os desafios do dia-a-dia que a maternidade traz, mas ainda não comecei. (planos)
Bom, fato é que estou na pilha de podcasts (novamente!) e hoje depois de escutar um, me deu uma enorme vontade de escrever aos produtores / apresentadores e compartilhar um pouco da minha história. O tema era sobre como vivenciamos / encaramos o luto.
Vou postar aqui o e-mail que escrevi ao programa e na sequencia falarei sobre alguns pontos interessantes que observei após o podcast!


Oi Gente.
Boa tarde.
Acabei de ouvir o podcast sobre luto. E gostaria de compartilhar minha história, porque nos últimos 7 anos, acredito que vivenciei vários tipos de luto.
Sou de BH, familia tradicional. Fiz faculdade no interior de São Paulo, e por alguns anos eu morei em Itu, onde vivi os anos mais altruistas da minha vida e sinto falta até hoje!
Em 2012 vim pra BH passar o fim de ano com minha família e minha mãe me conta que havia sido diagonosticada poucos meses antes com câncer de mama. Pra mim foi um susto. Senti meu estômago revirar, e pra minha supresa, o mais chocante ela estava por me dizer, ela decidiu que faria tratamento alternativo, e que inclusive ja havia começado, com homeopatias, barros, pendulos, etc..
Eu tive que largar a minha segunda faculdade ainda no início lá em Itu, formei em Marketing em 2011 e em 2012 tinha começado Cinema. Larguei minha família não nuclear lá e voltei correndo pra BH pra ficar com minha mãe. CLARO! (esse rompimento com Itu é um luto que vivo até hoje.
Pra mim foi MUITO difícil essa decisão dela, principalmente porque meu pai, em 96, havia falecido, depois de 9 meses de descoberta e tratamento desta mesma doença, em 2012 minha tia por parte de pai, também havia sido diagnosticada com câncer. Ambos fizeram o tratamento. 
Pra mim, na época, era como se ela tivesse tomado a decisão de não tratar a doença, foi difícil pra mim como filha respeitar a decisão dela e entender que o que ela escolheu foi um certo "tipo" de tratamento também. (outra conversa pra outro dia)
Enfim, vivi o meu luto com ela ainda viva. Tive o PRIVILÉGIO de tê-la me confortando e me consolando dizendo que tudo iria ficar bem, que Deus iria cuidar de nós (nossa família). Pouco tempo depois em 2013 meu irmão do meio (eu sou a mais velha e tenho  2 irmãos mais novos, a diferença é de 4 anos de um pro outro), meu irmão do meio, voltou dos USA, por conta dessa doença da minha mãe também. Lá ele estava vivendo dias difíceis e sombrios, não conseguiu se encontrar depois da faculdade que fez lá, tomou algumas decisões erradas que o levou a depressão então resolveu voltar pra casa pra se tratar e tentar ajudar com minha mae. Foram dias muito difíceis com ele também, não saía do quarto, ficava no escuro, chorava muito, não via ninguém, tinha muita vergonha pelo que estava vivendo. Ele era um atleta na faculdade, tinha schollarship pra jogar soccer lá, foi super envolvido e comprometido com a faculdade. Formou em espanhol e teologia (acho que a teologia de alguma maneira bagunçou um pouco a mente dele).
O câncer da minha mae foi ficando cada vez mais esquisito, parecia que estava virando uma ferida na mama dela (na época, final de 2013). Depois de vários meses tratando, meu irmão conseguiu encontrar um bom psiquiatra que conseguiu tirar-lo da depressão, porém não contavamos com uma coisa.. ele era bipolar e nós não sabiamos (nem ele). Na virada de 2013 pra 2014 ele foi passar o fim de ano na praia com os amigos, (depois de alguns comportamentos desordenados, mas que a gente não fazia idéia que era por causa da bipolaridade), ele simplesmente não volta mais pra casa.
Nao falava coisa com coisa, dizia que estava milionário, que havia comprado uma cobertura de frente a praia pra minha mãe, que comprou uma lamborghini, e era pra gente escolher qual carro queríamos (pros irmãos) que ele ia comprar pra cada um de nós, fugiu e ficou desaparecido por alguns dias. Ficamos desesperadas (minha mãe e eu).
A próxima vez que eu o vi, ele estava completamente dopado no hospital psquiátrico do Rio (capital), foram 7 longos dias pra gente conseguir transferir ele de volta pra Minas e mais uns 20 dias de tratamento pesado e intenso pra ele voltar a si voltar a depressão de novo (o normal dele agora é ser um bipolar depressivo).
Meu irmão NUNCA mais voltou pra mim, nunca mais foi o meu irmão de antes. Tive que aprender (ainda aprendo) a lidar com essa nova fase do meu novo irmão. Como minha mãe estava doente, eu precisei tomar frente de muita coisa lá em casa. Fui o "macho" da casa (é uma expressão difícil de dizer / explicar hoje em dia, por conta do "machismo X feminismo", mas sou mineira, e aqui tem um povo bem tradicional sabe.. essa frase me representa / justifica.)
Daí começou um luto que eu vivo até hoje, meu irmão nunca mais foi o mesmo, precisa tomar remédios constantementes, se não ele surta, é MUITO difícil encontrar a dose correta do remédio pro paciente com disturbio bipolar. É MUITO difícil conviver com eles em estado de mania.
Em Abril de 2015 minha mãe faleceu. Meu medo de quando ela me deu a notícia se tornou realidade. Parte do meu processo do luto, era saber aonde eu iria enterrar ela, e graças a Deus eu consegui resolver tudo antes que essa hora chegasse. Ela praticamente antes de morrer me pediu pra cuidar desse meu irmao. Taí um peso que carrego.
Não sei se vocês sabem, mas o bipolar tem uma pessoa que é referência pra ele, quando está estabilizado, é a base dele, é pra quem ele corre pra pedir ajuda, mas quando está em surto, essa pessoa ele encherga como se fosse o inimigo numero 1 dele. Felizmente e infelizmente, eu sou essa pessoa na vida do meu irmao. Então é uma relação de amor e ódio, dependendo da fase em que ele vive, e eu TENHO QUE conviver com isso.
Em meados de 2016 ele teve outro surto, mais forte. No mesmo período pra minha surpresa descobri minha gravidez. Foi uma fase complicada, meu primeiro trimestre foi MUITO (nem sei qual palavra usar), foi além de difícil. Não imaginei que fosse "vingar" a gestação, por conta de todo stress envolvido na minha vida.
Graças a Deus ele estabilzou antes da Maria Alice nascer em abril de 2017. (Maria era o nome da minha mãe que partiu em abril de 2015 e Maria é o nome da minha filha que chegou em abril de 2017 - poético)
Maternidade foi / é outra fase, outro tipo de luto na minha vida, como a Bárbara mencionou no podcast. Puerpério foi HARD CORE! No fim da gestação eu pensava: "Fudeu! Como vou ser mãe sem a minha mãe?" (outro assunto!)
Graças a Deus deu tudo certo!
De 2017 até poucos meses atras foram os melhores dias que meu irmão ja viveu des de que foi diagnosticado com a doença. E só quem é bipolar (ou tem familiares) sabe da dificuldade que é estabilizar, o "normal"dele é viver depresso, mas com os ajustes corretos ele consegue se virar sem estar preso nisso.
Faz uns dois meses que ele resolveu parar de tomar a medicação e começou a dar sinais de um possivel surto, ele brigou comigo (por causa da relação amor e ódio), comuniquei o médico dele, e graças a Deus tenho uma tia que cuida dele por mim, quando ele está nessas fases difíceis. Com a chegada da Maria, tive que priorizar outras coisas que não fosse ele. E as vezes tenho uma culpa enorme, pelo que minha mãe me pediu X o que eu preciso fazer! (outro assunto de novo).
Enfim.
Bjs

Bom..
Eu nunca tinha pensado no luto como parte de qualquer rompimento, sempre relacionei o luto a morte (talvez pela minha experiência com ela dês de pequena).
Luto segundo Freud:

luto é um processo lento e doloroso, que tem como características uma tristeza profunda, afastamento de toda e qualquer atividade que não esteja ligada a pensamentos sobre o objeto perdido, a perda de interesse no mundo externo e a incapacidade de substituição com a adoção de um novo objeto de amor (FREUD, 1915).

Lutei minha mãe enquanto ela ainda estava viva. E ainda sofro muito com a ausência dela, principalmente agora que sou mãe.
Lutei (aceitei) pela faculdade de cinema que não concluí.
Lutei (luto) pela Bárbara livre, solteira, desimpedida. Mas abracei meu novo Eu.
Vivo de luto pelo irmão que não tenho mais, mas celebro o novo irmão que eu tenho e me permite desenvolver a paciência, aceitação, carinho, amor e outras coisas. (espero que ele não leia isso!)
Lutei pela vida altruísta que vivi. Embora eu sinto muita falta de botar a mão na massa e ajudar outras pessoas.. mas HOJE minha missão é outra. É caminhar com minha NOVA família nuclear, buscando fazer o melhor pra eles e pra mim e estar em paz e harmonia, sabendo que em cada etapa.. cada fase da minha vida vou ter que viver lutos diferentes. Seja de morte ou de vida! Há luto na vida!

Abraço.

Esta escultura é da artista Celeste Roberge, e dizem que é a que melhor representa o peso do luto dentro de nós. (concordo)


Dicas de podcasts:

Estratégias para a vida - Perdas e luto do Instituto CPFL - Café Filosófico
Estamos Bem? - #37 - Aquele Sobre Luto 

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