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sábado, 29 de junho de 2019

Eu tenho depressão

Essa foi a última descoberta sobre mim. Faz algumas semanas que voltei a terapia.
Em 2011 tive um ano muito conturbado emocionalmente:
  • último ano da faculdade de marketing;
  • término de um namoro meio complicado;
  • saudade de casa;
  • me sentia perdida sem saber o que fazer nem pra onde ir (na vida);
  • não sabia dizer não e por conta disso queria agradar todo mundo.

Eu trabalhava com uma igreja na época. Morava numa casa maravilhosa, com amigos que viraram minha familia não-nuclear. Tinha bolsa de 100%  na faculdade. Estava rodeada por amigos, tinha uma comunidade bem intencional e profunda. Ajudava e aconselhava adolescentes, trabalhava com a parte midiática da igreja, tinha a parte social com moradores de rua e também ajudava num abrigo infantil. Nunca tinha vivido  tanto pra fora (pelos outros) e fortalecendo meu interior mesmo tempo.
Mas ainda assim, alguma coisa dentro de mim estava off.
O término do namoro mexeu muito comigo, a sensação que eu tinha era que toda a depressão dele tinha passado pra mim (tinha um distúrbio químico no cérebro, mais conhecido como bipolar). Eu nunca havia me sentido assim antes.. sem animo, sem energia, mais sono do que nunca, triste, desanimada, com vontade de correr e fugir de todo mundo. Comecei a ter algumas crises de pânico, não aguentava ficar perto de muita gente, seja em ambientes abertos ou fechados (praças, shoppings, igreja, etc). Minha casa era difícil pra mim, por ser uma casa aberta... parecia viver numa tristeza sem fim.
Reconhecer isso foi difícil, aceitar e abraçar meu novo eu nessa fase down também.
2011 e 2012 foi um tempo de terapia, de aceitação. Me redescobrir.. quem sou eu?!
Do que gosto, o que não gosto, aprender a dizer não e saber que posso falar não sem medo da rejeição, foi libertador. Viajei sozinha pra um país que eu não conhecia a língua, fiz novas amizades, me formei, saltei de paraquedas (até então a melhor experiência e sensação da minha vida), comecei uma nova faculdade onde eu me identificava (estudava por prazer!!!), conseguia meus momentos de solitude (raros), estava tentando me encontrar na minha vida... continuava com duvidas, não estava 100 % e faltava muito pra ficar bem, mas  estava no caminho certo (eu achava).
No final de 2012, fui pra casa da minha mãe, de férias, e ela veio com um papo de quão bondoso Deus era, suas maravilhas.. etc.. achei a conversa meio "esquisita" pra ocasião, sabia que ia vir alguma coisa no final... ela falava como Ele curava nossas feridas do corpo e da alma, e me contou que estava num processo da cura de um câncer de mama que havia sido diagnosticado "ha algum tempo atras"... Oi??
  • Como assim?
  • Defina algum tempo atrás ...
  • Defina cura de um cancer de mama...
  • Você está fazendo tratamento?
  • O que que tá acontecendo?
  • PUTA QUE PARIU, minha mãe vai morrer!
  • O que que eu vou fazer? E os meninos?
  • Essas eram talvez as perguntas que eu estava me fazendo. Em segundos.. (nosso cérebro trabalha muito rápido as vezes, principalmente se vc ainda não teve filhos rsrs)

Logo meu eu antigo voltou a tona... meu raciocínio lógico de fazer o que precisa ser feito... independente de qualquer coisa..
O que preciso fazer?!
  • Como agir?
  • Quando é a próxima consulta?
  • dO que os médicos estão dizendo?!

Fui enchendo ela de perguntas, lembro que ela me pedia pra ficar calma.. "fica calma Lidinha.."
Ela repetia: "eu ja estou curada, tenha fé ". Não sabia se era fé pro futuro ou se era agora, a cura ia chegar ou ja tinha chegado? COMO ASSIM?!
Ela me disse que não fez e nem faria o tratamento convencional.
Disse que o caroço na mama dela, era do tamanho de uma azeitona. E quando eu toquei, eu assustei e falei: " mãe, só se for caroço de azeitona de Itu!! Isso parece um ovo!!!", ela descordou de mim, e disse pra ter fé e confiar de que Deus já estava trabalhando no invisível (quem a conheceu deve vê-la falando isso).

Foi um período muito difícil.
Acho que foi o mais difícil que já a vivi até hoje, pela doença e suas consequências, por ter que me despedir da minha mãe, pelo desgaste físico e emocional da nossa família (meu incluso), por ter voltado repentinamente pra BH,  por me sentir sozinha.. ter que me programar com plano funerário... desligar da faculdade de cinema..
Enfim. Foi um tempo dedicado a cuidar da minha mãe.
E se tem uma característica minha, é a capacidade ou habilidade de dar conta de fazer e resolver tudo o que precisa ser feito. Isso é algo que tenho carregado des de que me entendo por gente.. ficou mais forte depois da morte do meu pai.
De volta a terapia...
Nessa última semana, identifiquei que sou uma pessoa depressiva / triste, e que não me permito viver assim.
La atrás em 2011 quando comecei o tratamento da depressão, achei que eu estivesse  melhorando, como falei anteriormente, estava aprendendo a fazer coisas pra mim, a me respeitar,  me permitir falar não.. etc. Eu tava indo bem até a notícia da doença de minha mãe. Ali, voltei a me atropelar, como um trem descarrilado, e não me permiti mais "estar" com minha tristeza. Sinto que não tenho tempo pra isso.
Reconheço que estou estressada, vez ou outra tomo um antidepressivo que a médica do posto me receitou (na fase de transição de volta pra BH e a doença), e ele me ajuda a mascarar ainda mais minha dor, e de certa maneira, me dá um "ânimo" pra seguir. Acho que ja tem muito tempo que estou escondendo isso de mim mesma,  talvez seja minha vida inteira.
A frase que sempre ouvi da minha mãe quando me sentia triste, pra baixo, fosse por uma nota ruim, briga com amigos, términos de relacionamentos, etc, era: "você já passou por coisa pior na vida. Vai tirar isso de letra." Ela achava que perder meu pai, era passar pelo pior, então eu não me permitia falar com ela ou com ninguém sobre como eu me sentia a respeito da minha tristeza. Eu tinha que ser forte, afinal de contas já tinha passado pelo pior na minha vida (na concepção dela). Todo mundo me conhece como uma pessoa amigável, feliz, guerreira, corajosa, resolvida! Hoje eu acredito que é devido a essa frase dela que determina essa Bárbara que todo mundo conhece (inclusive eu!)...
Não era isso que precisava, eu deveria ter processado minha dor, minha tristeza, precisava falar dela. E na melhor das intenções da minha mãe ela me reprimiu de fazer isso, aprendi a usar a lógica nos momentos de sofrimento, e talvez eu seja um pouco insensível e demasiada racional nesses assuntos, (encontrei, na arte, cinema, edição, na escrita, um novo jeito de me expressar, acho que é por isso que gosto de Woody Allen).
Precisava que ela me escutasse, e me ajudasse a encontrar um jeito de sair daquele crise. Por conta da situação, empurrei a tristeza pro fundo da minha mente, e sinto agora que ela está enraizada em mim.
Estou numa saga em busca da Bárbara, e é muito difícil pra mim fazer isso. Sinto que não tenho tempo pra sentar com minha tristeza. Não me permito ter esse tipo de tempo e encontrar uma maneira saudável de sair dela, ou será que deveria aprender a lidar com ela? De certa forma fujo dela, com todas minhas tarefas do dia a dia, escorrego horas por séries filmes, vou pro artesanato, etc.. estou fugindo de mim.  Nessa saga, o "eu" que encontrei até agora, não é mais a mesma de antes da gestação. Achei que era sobre isso, afinal depois de dois anos estou saindo da caverna da maternidade... só que estou deparando com tanta tristeza aqui dentro, que não sei qual eu que precisa ser resgatado.
  • Bárbara mãe da Maria Alice? Com certeza.
  • Bárbara esposa? Cadê você?
  • Bárbara filha da Maria Martinha? Também.
  • Bárbara missionária? Saudades dessa ai!
  • Filha do Dejair, irmã do Ícaro e do Avner.
  • Amiga de todo mundo...
Quem estou procurando? Não sei. Seria uma melhor versão de mim?
É fato que de alguma maneira essa tristeza esta refletindo e afetando todas as areas da minha vida (TODAS).

Bom, essa é minha condição hoje. Reconhecer isso acho que ja é um passo.

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